quarta-feira, 6 de março de 2019

Artigos & Resenhas - 8080 - Por Luiz Domingues

Olá pessoal!

Estamos de volta com mais uma coluna Artigos e Resenhas aqui no nosso site. Dessa vez o sensacional Luiz Domingues nos fala sobre o álbum de estreia da banda 8080, banda esta dos guitarristas Chico Marques e Cláudio “Moco” Costa. Vale a pena conhecer o trabalho desta banda apresentada pelo Luiz.

A matéria original pode ser encontrada neste link.
https://luiz-domingues.blogspot.com/2016/03/8080-por-luiz-domingues.html

Lembrando que o nosso amigo possui três blogs diferentes que estão nos links abaixo.
http://luiz-domingues.blogspot.com.br/
http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/
http://luizdomingues3.blogspot.com.br/

Um breve release do Luiz feito pelo próprio:
Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste Blog particular, reúno minha produção geral e divulgo minhas atividades musicais. Como músico, iniciei minha carreira em 1976, tendo tocado em diversas bandas. Atualmente, estou atuando com Os Kurandeiros.

Sem mais, vamos ao texto do Luiz

8080 - Por Luiz Domingues


Eis que recebo o trabalho de uma banda paulistana relativamente nova, mas formada por dois guitarristas da pesada, e tarimbados da cena Rocker da cidade de São Paulo. Chamada 8080, a banda liderada pelos ótimos Chico Marques e Cláudio “Moco” Costa, apresenta seu CD debut à cena artística, em grande estilo. Ambos são amigos de longa data, oriundos da simpática cidade interiorana paulista de Marília (alô, MAC !!), e que vieram batalhar a carreira na capital paulista, há mais de 15 anos, adquirindo assim muito respeito e admiração, atuando na noite com bandas tributo; side man de artistas em geral, e tornando-se produtores musicais com muitas ações em estúdios. 
E agora acertam a mão mais uma vez ao se lançarem como banda autoral, e mostrando um trabalho de forte apelo pop, com muita substância musical e atributos múltiplos.
Antes de avançar nesta resenha, devo esclarecer que sim, o 8080 mostra fortemente sua influencia pelo BR-Rock 80’s, mas também, ao contrário do que se poderia imaginar em se tratando de uma banda fundada por dois guitarristas, a intenção não era fazer menção ao amplificador Marshall 8080, tampouco, todavia, a explicação oficial vinda de ambos, é que tal numeração correspondia à placa de um carro que Chico Marques possuía quando conheceu Cláudio “Moco”Costa, lá na ensolarada Marília, no início dos anos 2000. 
Mas no cômputo final, acredito que a somatória das três hipóteses faz sentido, pois de fato tem um sabor da década de oitenta no trabalho; tem enfoque total das guitarras (daí a menção ao amplificador fazer jus ao nome), e a explicação oficial é típica cultura Rocker, ao atribuir um certo quê de misticismo em evocar um “sinal mágico”, certamente enviado pelos Deuses do Rock.
Sobre o álbum homônimo, são dez faixas para se saborear.

O disco abre com “Todo Mundo Quer Amor”. Trata-se de um Rock bem para cima, festivo, e com muita influência do Barão Vermelho. O trabalho das duas guitarras é excelente. Riff; base; solo, e contra solos como manda o figurino. O vocal do Chico é límpido; com excelente emissão; dicção, dando o recado como Cazuza dava, mas na minha opinião, Chico tem mais atributos vocais, e empolga em meio ao alto astral da canção. A presença dos backing vocals em vocalises de “Uh-uhs” lembra a Rita Lee & Tutti Frutti dos bons tempos. A letra fala de amor, sem grande arroubo poético, mas atende ao clima da música, com eficácia. Discreto, mas muito funcional, um órgão Hammond ao fundo faz uma base ao estilo “sombra”, que dá um charme e tanto para a canção. Esse teclado foi executado pelo próprio Chico Marques.

A segunda faixa, “Down de te Amar”, começa com um slide muito bacana. Lembra o AC/DC de certa forma, pelo Riff de Rock básico, envolvente.



Nesta canção, um convidado especial atua, Ricardo Cristaldi, um ótimo tecladista que somou muito ao trabalho. A intervenção dele ao Clavinete é sensacional, trazendo um tempero de Black Music, com um balanço incrível. Impressiona também a extrema felicidade na escolha do timbre desse instrumento. Curti muito. Eclético, também colocou piano elétrico (que Billy Preston abençoe o Fender Rhodes !!), e órgão Hammond, enriquecendo demais a música. Chico e Cláudio brilham igualmente com guitarras super desenhadas e sensacionais, que passeiam com desenvoltura pelo pan do stereo, e os timbres são ótimos. Ótimo refrão, e um solo de entortar. Chico mais uma vez mostra seu talento vocal, com uma interpretação ótima.

Hora de ouvir “Nosso Mundo ainda é Perfeito”. Essa remonta mais a outra vertente do BR Rock 80’s. Lembra artistas mais pop e menos Rock, como Lulu Santos; Rádio Táxi; Kid Abelha, e até o Kiko Zambianchi.


Tem intervenções de sintetizadores ao sabor dos anos oitenta, além de guitarras mais limpas, mas extremamente bem colocadas e tocadas.

“Amor ao Contrário” é uma bela balada. Tem um swing que certamente bebe da fonte do R’n’B e remete aos Stones, mais anos 1980.



Tem um violão descolado, tocado pelo Chico, amenizando a harmonia, e uma grande profusão de arpejos super inspirados da guitarra do Cláudio. O refrão é muito bom, num crescendo, com uma linha melódica bem desenhada, não só pela criação da melodia em si, mas pelo ótimo tratamento de áudio, no acabamento final da mixagem, que o valorizou, bastante.

Eis a quinta faixa, “Ganhar ou Perder” onde a menção aos Stones e Barão Vermelho é total, numa combinação muito boa de riff e melodia. Excelente solo, super Rock’n Roll, e um refrão com uma modulação harmônica sutil, mas bem bacana.

O talentoso Chico Marques, um artista de múltiplos atributos

A sexta faixa, “Caso Encerrado” entra com riff forte, e uma voz dobrada muito legal. O fato do Cláudio ser técnico de som e ter feito a mixagem, certamente foi decisivo nessa ótima escolha de desenhos passeando pelo pan. O stereo é muito bem aproveitado, com muitos detalhes, que deixaram o trabalho não só nesta faixa, mas no disco todo, muito rico.

“Você nem Liga”, a sétima faixa, tem uma certa aura reggae/ska, e lembra o trabalho do Hanoi-Hanoi de alguma maneira. O convidado Ricardo Cristaldi colocou um naipe de metais sampleados via teclados, bem arranjado, além de algumas pontuais intervenções de sintetizador ao longo da canção. Até o uso de um recurso tipicamente oitentista, o “clap”, é usado. 


Cláudio arrasa no Wah-wah. 

Sutis também são alguns backing vocals costurando o vocal principal, num arranjo bastante feliz.

“Simples” lembra os Stones, mas de outra época, mais sessentista, talvez pela batida que me fez lembrar de “Child of the Moon”. Mais uma ótima presença das guitarras, com timbres sensacionais, e um vocal dobrado e muito bem desenhado. Gostei da solução do fade out final, acho que foi perfeita.

A nona faixa, “O Certo é o seu Mal”, também apresenta Riff forte e muito Rock’n’Roll. Mais uma que lembra o Barão Vermelho, fala de amor, como quase todas as demais, mas com um pouco mais de acidez.

“Fingindo ser tão Chic, pra ver se chama a atenção
Perdendo toda a classe se alguém te fala que não,
Tentando a noite inteira achar o seu alvo ideal”...

Sem dúvida uma das melhores letras do álbum, em minha ótica.

“Apoteótico” entra fazendo jus ao nome, com um riff Rock clássico e bem animado. O refrão envereda pelo pop oitentista, super radiofônico e a pergunta é inevitável : porque uma banda como o 8080 não está tocando nas emissoras de rádio ? Bem, sabemos a quantas anda a mentalidade no panorama da difusão mainstream...portanto, só lamento essa ausência. Gostei da letra, com uma firmeza de propósito das mais salutares. O negócio é seguir em frente, sem espaço para o desânimo, mesmo que as coisas não estejam do jeito que gostaríamos.

“Mesmo que eu tropece nos meus passos,
 Tudo o que eu quiser um dia eu faço,
Mesmo se eu tiver um ponto fraco,
Não me iludo mais, eu piso em falso,
Mesmo que eu me esqueça um pedaço,
Levo a maior parte nos meus braços,
Pra chegar inteiro no final”...

Nesse trabalho inicial, Chico e Cláudio tocaram todos os instrumentos, fora as faixas onde o tecladista Ricardo Cristaldi colaborou.


Chico Costa tocou guitarra; violão; órgão Hammond e foi coprodutor geral , enquanto Cláudio “Moco” Costa tocou guitarra e baixo; além de programar a bateria eletrônica; produzir; editar, e mixar o álbum. Por isso não mencionei baixo e bateria nas faixas, pela ausência de componentes oficiais nesse trabalho. 
Sobre a bateria, foi super bem programada, e é muito eficaz, com rara felicidade até. Para o padrão pop, é perfeita, atuando reta, com discretas viradas etc e tal, mas deixo a ressalva que a banda já providenciou um baterista de alta técnica e fixo na formação (Lucas Melo), e que certamente vai gravar uma bateria mais humana e desenhada nos próximos trabalhos, enriquecendo ainda mais o trabalho do 8080.
Sobre o baixo, Cláudio executou as linhas com grande firmeza, bom timbre e eficácia. Não tem grandes voos, mas também está bem agradável no contexto.
Outra boa nova, a banda já anunciou a presença de um ótimo baixista oficial, Silvano Andrade, que vai somar muito nesse trabalho, certamente.

Outra particularidade dessa obra, é que ela foi gravada numa noite só, e segundo Chico e Cláudio, as músicas foram compostas; arranjadas; e gravadas, ali no calor do estúdio, mostrando mais um trunfo da dupla, ou seja, com a criatividade à flor da pele.

Sobre a gravação, gostei muito da sonoridade geral, e como já salientei, os timbres dos instrumentos, sobretudo as guitarras, ficaram espetaculares, além de também chamar-me muito a atenção o tratamento dado às vozes, no processamento de mixagem.
Gostei do padrão da mixagem, com tudo na frente, e que honra as tradições do Rock, num dos aspectos que mais o consagraram, isto é, o fato de que todos os instrumentos são importantes no cômputo geral, portanto, Cláudio soube dar essa marca ao disco.

A respeito da capa, gostei bastante da ilustração. Trata-se de uma garota jovem; sensual; e muito voluptuosa, mostrando-se bastante perigosa a nos apontar um ostensivo revolver. Apesar de parecer agressivo, creio que a metáfora é outra, e não me chocou necessariamente. O responsável pela ilustração foi Paulo Argollo, que mostrou ter influência boa das Comics, com traços bem bacanas.

Gravado; mixado, e masterizado no DaCosta Studio, em 2014.
Produção geral de Cláudio Costa e Chico Marques.
Para quem fica o dia inteiro nas Redes Sociais reclamando que o Rock brasileiro está caído, ou mesmo morto, digo com pesar que se trata, infelizmente de um preguiçoso, ou deliberadamente gosta de fazer o gênero “reclamão”, destilando seu insuportável “mimimi”, ao disseminar baixo astral e derrotismo sem fim.

Mesmo em se considerando que a difusão mainstream atual está realmente dominada em sua totalidade  pelos agentes da subcultura (ou mesmo anticultura, o que é muito pior), por outro lado, existe uma cena  underground viva e pulsante, com dúzias, ouso dizer, centenas de bandas de muita qualidade,  fazendo música de todas as vertentes imagináveis. Portanto, se ao invés dos lamentos, as pessoas tirassem as suas respectivas nádegas preguiçosas do sofá para irem prestigiar tais artistas nas casas de espetáculos onde se apresentam, ou no mínimo tivessem paciência para ouvir seus trabalhos na internet, e os compartilhassem nas redes sociais, já seria um alento.

Basta fazer uma busca nos arquivos dos meus Blogs 1 e 2, e verificar que já enfoquei vários artistas de qualidade, e que merecem nosso apoio. É o caso do 8080, outra banda brasuca que eu recomendo!


Para conhecer melhor o trabalho dessa boa banda, procure sua página no Facebook :
https://www.facebook.com/8080oficial?ref=hl
Procure também o seu canal oficial de You Tube :
https://www.youtube.com/channel/UCx0D7q_3S2XbFRqw7QgRgZA
E dá para ouvir o disco também no Soundcloud :
https://soundcloud.com/oitentaoitenta-oficial  

Ficamos por aqui com esta coluna do Luiz, um abraço e até a próxima!

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