Olá pessoal!
Nesta semana temos mais uma coluna Artigos & Resenhas do nosso amigo Luiz Domingues. A nossa ideia com esta coluna é sempre deixar em evidência trabalhos de bandas autorais que estão fora do mainstream. Leiam o texto do Luiz, mas não deixem de fazer o mais importante que é curtir o som da banda apresentada aqui.
Dessa vez o sensacional Luiz nos fala sobre o EP "Subterrâneos" da banda Os Subterrâneos.
A matéria original pode ser encontrada neste link.
Lembrando que o nosso amigo possui três blogs diferentes que estão nos links abaixo.
Um breve release do Luiz feito pelo próprio:
Sou músico e escrevo matérias para diversos Blogs. Aqui neste Blog particular, reúno minha produção geral e divulgo minhas atividades musicais. Como músico, iniciei minha carreira em 1976, tendo tocado em diversas bandas. Atualmente, estou atuando com Os Kurandeiros.
Sem mais, vamos ao texto do Luiz:
Os Subterrâneos / EP Subterrâneos - Por Luiz Domingues
É inacreditável, eu sei, mas em pleno 2017, com quase todo mundo a destilar lamúrias pelas redes sociais, em tom de crítica pela anti música que ocupa o mainstream (e na contrapartida não haver espaço algum para artistas do underground), nos confins da zona leste de São Paulo, uma turma jovem, ultra dinâmica e entusiasmada, vai nadando contra a maré do baixo astral generalizado e alheia ao “mimimi” dos perdedores (e por quê não, dos perdidos, também...), está a produzir uma música profundamente influenciada pelos anos 1960, resgatando inúmeros aspectos revolucionários daquela década memorável. É uma turma boa que produz shows; festivais, não quer nem saber de crise e sem “frescuras”, produz seu agito contracultural onde houver espaço, e nem importa-se se não tem infraestrutura adequada, por que se não houver, eles mobilizam-se e fazem acontecer. Só por tal mentalidade, já merecem todo o enaltecimento, mas não fica só nessa boa vontade extrema, pois trata-se de um celeiro de artistas talentosos, que tem o que dizer, portanto, agregue-se tal valor. E entre esses rapazes obstinados, muitos tem duas, três ou mais bandas mantidas em simultaneidade, e todos os amigos dessa fraternidade interagem, nem que seja em participações uns nos discos dos outros.
Hoje, quero tratar de mais uma banda dessa cena (já abordei o Capitão Bourbon, anteriormente), chamada “Os Subterrâneos”. Banda profundamente influenciada por bandas de garagem dos anos sessenta, não necessariamente famosas e daí, realça-se a extrema originalidade dessa banda em buscar sonoridades perdidas no tempo e no espaço, sendo que em realidade, tal estética jamais poderia ter sido obscurecida, nem mesmo pela ação do tempo. Contudo, muita coisa aconteceu na história do Rock e até o vilipêndio usado como arma / ação de marketing, tratou de obscurecer tal corrente histórica e agora, uma banda como Os Subterrâneos está fazendo o trabalho arqueológico e ao mesmo tempo mágico em reatar o fio da meada perdido, ou seja, o “religare” no Rock, um fato que Rockers genuínos aos quais incluo-me, sonham em ver acontecer, há décadas.
Os Subterrâneos tem em sua formação como quarteto, os seguintes membros : Eduardo Osmedio (Guitarra / Voz); Ronnie Pedroso (Órgão / Gaita / Guitarra e Voz); Guilherme Torquato (Baixo) e Rogério Antônio (Bateria e Voz). Seu EP, chamado “Subterrâneos”, foi lançado em 2017, contendo quatro faixas. A sonoridade da banda, em termos de áudio, soa bastante rústica, parecendo de fato um bootleg concebido em poucos canais, sob a égide do mundo antigo das gravações (leia-se analógico), e isso é sensacional enquanto fidedignidade às influências que eles seguem, com dedicação. Até a foto da banda na capa do álbum, com os rapazes trajados como se estivessem em 1966, em meio ao “fog” de Londres, é incrível. E fica ainda mais interessante se levarmos em conta que são paulistanos da zona leste e que estão fazendo isso em 2017...
Sobre as quatro faixas, ouvi-las no headphone é um mergulho direto aos “sixties”, uma viagem no Túnel do Tempo, quiçá na companhia de Anthony Newman e Douglas Phillips, absorto em cambalhotas num Kaleidoscópio psicodélico e muito louco.
A primeira faixa, “Ruas de Soweto”, tem um som de órgão hipnótico. É aquele timbre agudo e maravilhoso desses teclados tipicamente sessentistas como os órgãos Voz e Farfisa, inigualáveis pela suas respectivas características no tocante aos timbres. Gostei muito dos backing vocals ao fundo, quase sombrios, repetindo frases proferidas pela voz principal e lembrando muito diversos artistas egressos da Jovem Guarda e estes por sua vez, que beberam forte no Pop francês e italiano, principalmente, naquela década. Muito boa uma parte desdobrada em compasso 3/4, insinuando uma valsa lisérgica. Gostei também do solo de guitarra e o timbre do baixo, quase sem sustain, com aquele timbre anasalado, também muito usado naquela época.
“Borboleta Branca” é a segunda canção e apresenta-se com forte orientação do Acid Rock sessentista. Nessa faixa, um músico convidado tocou guitarra, Jun Santos. A letra investe forte na loucura psicodélica, buscando imagens surreais. Eis um trecho :
"Era uma borboleta voando mais branca que a neve
sobrevoava o jardim colorido a procura das tulipas negras"...
A terceira faixa, “Dia Lindo”, tem em sua parte inicial uma divisão rítmica fragmentada, sob compasso 2/4, muito interessante. Convenções duras ocorrem em diversos trechos trazendo um peso incrível. Tem muito do som da pouco conhecida banda sessentista americana, “The Music Machine” (aliás, uma influência confessa dos rapazes). Gostei do solo de guitarra executado pelo artista convidado, Uly Nogueira, outro músico com forte participação nessa cena, tocando em várias bandas irmãs e também produzindo e ofertando apoio como ilustrador de capas de discos e cartazes de shows a evocar a psicodelia sessentista, sendo um talento impressionante. E não obstante ser um baterista ótimo em outras bandas, aqui contribuiu com um belo solo de guitarra ao pisar no “Fuzz”, sem parcimônia.
“Jardim Psicodélico” fecha o EP e não pude deixar de enxergar o “Iron Butterfly” a flutuar fortemente como influência ótima para os rapazes. Trata-se de uma viagem psicodélica, uma autêntica good trip. Ouvir essa faixa de olhos fechados pode levá-lo diretamente aos bastidores do Auditório Fillmore West, em algum momento de 1967, quando em meio a tal epifania, a vontade de não voltar para a realidade do século XXI em curso, será imensa, tenha essa certeza. Gostei muito da condução da bateria, evoluindo com bastante criatividade nos tambores, e também do solo de guitarra, muito bonito. A letra investiu forte no surrealismo explícito, na melhor tradição dos ditos, lindos sonhos delirantes.
"acordei, mas ainda estava a sonhar
encontrei o jardim psicodélico dos sonhos meus"...
O disco foi gravado no estúdio “Corações de Pedra”, em São Paulo. Jonas Morbach foi o técnico da captura de gravação e mixagem / masterização. Foto e arte da capa a cargo de Fernanda Heitzman (um trabalho muito bom da parte dela, por sinal).
Em postagens que vejo pelas Redes Sociais a anunciar seus shows, percebo que gostam de brincar com o fato de que são da zona leste de São Paulo, referindo-se a ela como “Zona Lost”, numa alusão ao seriado de TV que fez sucesso, anos atrás. Mas creio que esses artistas na verdade não perderam nada, mas ao contrário, estão achando um caminho muito interessante a resgatar raízes remotas do Rock, ou seja, fazem um trabalho notável.
Recomendo o bom trabalho dos Subterrâneos, tanto acompanhando-os ao vivo aonde quer que estejam, quanto pela audição de seu EP, aqui analisado. E que venham mais trabalhos nessas características. Viva a psicodelia sessentista !
Ouça o EP, abaixo :
Escute o álbum na íntegra, através da sua postagem de You Tube:
Também disponível no spotify:
Para saber mais informações sobre a banda, acesse sua página na Rede Social Facebook:
É isso aí!
Espero que gostem desta resenha e o principal, conheçam o som bem legal desta banda.
Abraços e até a próxima!
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