quinta-feira, 2 de março de 2023

Transcrição do Mês - Allan Holdsworth – Letters of Marque

 

Olá pessoal!

Nesta semana temos a transcrição com texto da música "Letters of Marque" de Allan Holdsworth que saiu no álbum I.O.U. de 1985 e conta com o baixista Paul Carmichael.

Durante anos eu escrevi para publicações relacionadas ao contrabaixo. E atualmente trabalho como pesquisador e professor e divulgo as minhas pesquisas nesta área.

Essa música faz parte da minha coleção de transcrições e análises de baixistas de diversos estilos. Ela foi publicada na edição #32 da revista Bass Player Brasil em maio de 2014.


Transcrição e Texto: Allan Holdsworth – Letters of Marque

Álbum I.O.U. - 1985
Baixista: Paul Carmichael
Transcrição e Texto: Fernando Tavares

Conhecido no meio do Fusion como um dos maiores expoentes do estilo, Allan Holdsworth é dono de uma concepção musical única, explorando elementos harmônicos como empilhamentos alternativos, simetrias, além de um fraseado que lembra muito o de grandes mestres do Jazz como John Coltrane e Cannonball Adderley. 

Allan sempre foi um músico exigente, tanto com ele quanto com os outros músicos que tocavam em sua banda, e por isso compreendemos o motivo de vários baixistas excepcionais como Jeff Berlin, Jimmy Johnson entre outros terem participado de seu trabalho. 

Nesta coluna apresentamos a música Letters of Marque que está presente no álbum I.O.U. de 1985 e conta com o excepcional baixista Paul Carmichael nos graves. 

Como em quase todas as músicas de Holdsworth, esta não possui um centro tonal. Na parte “A” a fórmula de compasso varia praticamente a cada compasso sendo muito difícil a contagem de tempo - aconselho ao estudante decorar o tema - eu particularmente não conto, pois prefiro cantar a melodia da música. 

Nas primeiras ideias o baixista toca a fundamental dos acordes executando alguns slides, perceba ainda que o baixista não acentua todas as frases dos acordes, deixando alguns espaços para a melodia. A parte “A” ocorre com algumas variações mas sempre utilizando a mesma concepção entre os compassos 1 e 11, 20 e 25, 26 e 32, 215 e 226 e no final a partir do 227.

A parte B (compassos 12 ao 19, 32 ao 35 e 207 ao 214) é construída em cima de uma sequência de acordes de Edim com variações nas tensões, esta é mais uma ideia muito explorada por Holdworth em suas músicas, sendo que ele mantém a fundamental e harmoniza as “pontas” dos acordes com tensões pouco usuais. Carmichael constrói as frases utilizando as notas da tétrade de Em7, as quintas funcionam como passagem em todas as partes, ele praticamente não utiliza quintas como nota de apoio neste trecho, por isso trabalha com uma tétrade menor ao invés da tétrade diminuta que seria a mais indicada.
A parte de solos da música se inicia no compasso 36 e mais uma vez não existe tonalidade definida, o solo é dividido em duas partes, vamos chamá-las de partes “C” e “D”, sendo que a forma do chorus é o “C” duas vezes e depois o “D”. Para aqueles que não estão habituados ao termo, um chorus no Jazz/Fusion equivale a uma sequência de acordes sobre os quais os músicos improvisam. 

O primeiro a solar é Paul Carmichael, que improvisa sobre um “chorus”. Nele, o baixista explora as notas dos arpejos na maioria dos compassos em uma linguagem bem “jazzística”, obviamente, ele não explora só as notas do acorde, em alguns casos o baixista explora as Pentatônicas dos respectivos acordes (exemplo nos compassos 44 ao 46). Além desta ideia, temos também a utilização de escalas como a que ocorre nos compassos 58 e 59, na qual o baixista explora a escala de E Mixolídio com uma “blue note” na segunda aumentada (neste exemplo preferi utilizar a nota enarmônica G para não gerar confusão para quem estiver lendo a partitura).

A partir do compasso 77 quem improvisa é Allan Holdsworth e o baixista cria uma linha de contrabaixo fantástica que dá muita sustentação ao solo, perceba que não há mais nenhum instrumento fazendo a base para o guitarrista improvisar, somente o baixo dando toda a sustentação harmônica necessária. Esta ideia de linha de baixo é muito interessante para quem toca em trios sem nenhum outro instrumento para complementar a harmonia, além do baixo.

A frase para a parte “C” é apresentada no primeiro compasso do trecho e o baixista explora a Fundamental, a Quinta e a Fundamental novamente uma oitava acima para construir as frases, isto vale para basicamente todos os acordes do trecho. O interessante a se observar neste trecho, são as variações utilizadas pelo baixista como as que ocorrem nos compassos 78, 85 e 91. 

Na parte “D” do trecho o baixista utiliza a mesma ideia só que a harmonia fica estática sobre um acorde de Em. O solo de guitarra é feito sobre dois chorus.

No compasso 159 tem início o solo de bateria e o sinal apresentado indica que o baixo respeita uma pausa de 48 compassos. 

Esta música representa muito do virtuosismo que construiu a fama do estilo Fusion por todo o mundo e ela explora os conceitos mais importante de rítmica, técnica e harmonia que o estilo precisa para ser estudado. Dedique um bom tempo escutando o tema e decorando as frases, eu toco muitas músicas que mudam a fórmula de compasso constantemente e creio que o mais fácil é gravar as melodias, em vez de contar o tempo. Se você sempre contar, ficará muito bom o trecho, mas, particularmente eu acho que o elemento musical, a sonoridade e a pegada acabam se perdendo, por isso a ideia de decorar a melodia é melhor, é muito mais musical e divertido.

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Esse conteúdo faz parte de um acervo produzido pelo autor e que estão relacionadas as suas pesquisas sobre contrabaixo, análise e teoria musical.

Para maiores informações entre em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com

Bons estudos e até a próxima coluna!

Fernando Tavares é pesquisador, professor e contrabaixista. Contribuiu com diversas publicações para revistas especializadas em contrabaixo e hoje é membro do LAMUS (Laboratório de Musicologia da EACH-USP Leste), do CEMUPE (Centro de Musicologia de Penedo) e do LEDEP (Laboratório de Educação e Desenvolvimento Psicológico da EACH-USP Leste).
É Mestre e Doutorando em Musicologia pela ECA-USP e é bolsista da CAPES.
"O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001
"This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001"

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