domingo, 21 de maio de 2023

Teoria e Análise: O Blues como tipo harmônico

 


Olá pessoal!

Nesta semana damos continuidade a nossa coluna de teoria e análise. Diferente das outras colunas deste blog nas quais eu passo estudos teóricos e práticos sobre os assuntos abordados, neste espaço buscamos refletir sobre os conteúdos e instigar novas pesquisas dos leitores.

Vocês podem conferir as duas colunas anteriores em que falo um pouco sobre os modelos de estudos que desenvolvo nos links abaixo:

Coluna 1 - http://www.femtavares.com.br/2023/01/teoria-e-analise-introducao-aos.html

Coluna 2 - http://www.femtavares.com.br/2023/02/teoria-e-analise-jazz-fusion.html

Coluna 3 - http://www.femtavares.com.br/2023/04/teoria-e-analise-esquemas-no-jazz-fusion.html


Estas aulas são parte de um acervo produzido pelo autor e que estão relacionadas as suas pesquisas sobre contrabaixo, análise e teoria musical.

Para maiores informações entre em contato pelo e-mail: femtavares@gmail.com

Novamente, ressalto que quando comparo algumas epistemologias musicais nessas colunas que escrevo, não quero mostrar vínculos entre os estilos citados e muito menos em relação aos autores. A ideia sempre é tentar desmistificar o processo de conhecimento teórico para mostrar que os "gênios" - com todas as aspas que o termo merece - são músicos que tinham como grande mérito o domínio das ferramentas disponíveis em seu tempo.

Bom, hoje falaremos de uma sequência extremamente importante e muito utilizada, o Blues de 12 compassos. 

Sempre que passava essa ideia do blues de 12 compassos, tentava sistematizar para os meus alunos as diferenças entre essa sequência harmônica e o Blues como estilo musical. Depois de algum tempo comecei a  demonstrar por meio de uma divisão e subdivisão dos gêneros musicais. 

Vamos pensar que podemos dividir a música em dois gêneros principais, o erudito e o popular. Podemos pegar cada um deles e dividir em estilos, que no caso da música popular, podem ser o Jazz, o Rock, o Country, entre outros, além claro, do Blues.

Nesse caso, o Blues como estilo funciona como um catalizador de diversos parâmetros, não só harmônicos, mas métricos, melódicos, fraseológicos e até de instrumentação que o caracterizará.

Assim, não é só possuir uma determinada sequência harmônica que fará com que uma determinada canção seja um Blues dentro do estilo mais tradicional. Ademais, existem diversas canções de Blues que não possuem sempre a mesma ideia harmônica, mas seguimos adiante para entendermos melhor isso.

Agora, pensaremos em uma subdivisão dentro do estilo blues da qual extraímos a ideia dos 12 compassos e que chamaremos de tipo, que será uma espécie de padrão harmônico que servirá como modelo no blues e que poderá migrar para outros estilos.

Primeiro vamos escutar um blues estilo que se vale do tipo de 12 compassos, a música Laundromat Blues de Albert King.



Agora, vamos escutar uma outra música, a famosa Rock n'Roll do Led Zeppelin.


E por fim, Blue Monk de Thelonious Monk



Ouviram as três?
Agora lhes faço uma pergunta, são músicas do mesmo estilo e que possuem os mesmos parâmetros?
Acho que a resposta será não, certo? Mas o que me fez unir as três canções?
Justamente a questão do blues como tipo em uma figuração de 12 compassos.
A ideia básica deste tipo harmônico é uma estrutura de três seções de quatro compassos em que os acordes são postos da seguinte maneira:

I - I - I - I na primeira seção;
IV - IV - I - I na segunda seção, e por fim;
V - V - I - I na terceira seção.

Estas seções sofrem pequenas alterações em lugares devidamente localizados, ou seja, não são feitos de forma aleatória, o que provavelmente desconfiguraria o tipo. 
Algumas modificações comuns acontecem no segundo compasso da primeira seção com a utilização do IV no lugar do I e que transforma a sequência de 12 compassos em um Fast Change. Depois no segundo compasso da segunda seção é comum a utilização de um #IV°. E por fim, na última seção temos também no segundo compasso a utilização do IV, além de uma variação com o V compasso 12 para chamar o primeiro compasso.
Em síntese podemos dizer que um blues de 12 compassos padrão é o que está acima, mas que pode ser variado da seguinte maneira (variações entre parênteses): 

I - I (IV) - I - I 
IV - IV (#IV°) - I - I 
V - V (IV) - I - I(V)

O Rock tende a manter o tipo de blues o mais próximo da versão original, ou seja, o modelo básico, como em Rock N'Roll, Simca Chambord, Hound Dog, e outras, enquanto o Jazz utilizará a maior quantidade de variações possíveis como em Blues by Five ou Blues for Alice, por exemplo.
 
Agora ouçam de novo as músicas que eu passei e tentem perceber (1) o blues como tipo e (2) as pequenas variações que descrevemos.
  
Não esqueça de estudar os dois modelos de blues que passamos em todos os tons e pelo ciclo de quartas.

É isso aí!

Espero ter contribuído com mais algumas reflexões sobre os modelos harmônicos. 

Abraços e até a próxima coluna!

Fernando Tavares é pesquisador, professor e contrabaixista. Contribuiu com diversas publicações para revistas especializadas em contrabaixo e hoje é membro do LAMUS (Laboratório de Musicologia da EACH-USP Leste), do CEMUPE (Centro de Musicologia de Penedo) e do LEDEP (Laboratório de Educação e Desenvolvimento Psicológico da EACH-USP Leste).

É Mestre e Doutorando em Musicologia pela ECA-USP e é bolsista da CAPES.

"O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001

"This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001"

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